O Ministério da Saúde divulgou que até último dia 20 de novembro, 739 bebês nasceram no país com microcefalia,
uma malformação congênita que pode matar ou deixar graves sequelas de
desenvolvimento. No último sábado, dia 28, o órgão confirmou que os
casos tem relação com a infecção de zika vírus, que chegou ao Brasil
neste anos. Abaixo, um guia com dez respostas sobre o que se sabe, até o
momento, sobre o problema.
1. O que é microcefalia?
É uma malformação congênita em que a criança nasce com o perímetro
cefálico menor do que o convencional, que é de 33 centímetros. Na
prática, isso significa que o cérebro não se desenvolveu corretamente e,
como consequência, o recém-nascido pode morrer ou apresentar sequelas
graves, como dificuldade de visão, de audição e retardo mental.
Geralmente, essa condição se desenvolve no primeiro trimestre da
gestação.
2. É algo novo?
Não. A microcefalia é registrada há bastante tempo, mas neste ano os
casos aumentaram muito, por isso chamaram a atenção dos sistemas de
saúde locais, que notificaram o Ministério da Saúde. Para possibilitar a
comparação: neste ano, já são 739 casos, segundo boletim divulgado pelo
ministério em 24 de novembro, enquanto em 2014 foram 147, em 2013, 167,
e em 2012, 175.
3. O que causa?
Existem várias causas. O uso de substâncias químicas e a exposição à
radiação na gestação são alguns exemplos. A microcefalia também pode ser
causada por agentes biológicos, como vírus e bactérias (entram aqui
doenças como sífilis, toxoplasmose e rubéola). A suspeita agora é que o
aumento brusco de casos tenha sido causado pela chegada de um vírus novo
no Brasil, o zika.
4. Já se tem certeza absoluta de que o vírus é a causa?
O Ministério da Saúde confirmou que há ligação entre o vírus e a
doença neste sábado. A partir da análise de sangue e tecidos de um bebê
morto no Ceará, os pesquisadores chegaram ao que o Governo brasileiro
chamou de "uma situação inédita na pesquisa científica mundial". Em
nota, o ministério informou que "as investigações sobre o tema devem
continuar para esclarecer questões como a transmissão desse agente, a
sua atuação no organismo humano, a infecção do feto e período de maior
vulnerabilidade para a gestante". Em análise inicial, de acordo com as
autoridades sanitárias, o risco está associado aos primeiros três meses
de gravidez.
5. Quantos casos de zika o país teve?
Os primeiros registros surgiram no Brasil em fevereiro de 2015 e
hoje, segundo dados do Ministério da Saúde, 18 Estados já têm casos
confirmados. De acordo com um relatório da coordenação do Programa Nacional do Controle da Dengue
do ministério, de 3 de novembro deste ano, 84.931 casos suspeitos da
doença foram notificados no país até o momento. No entanto, o número de
afetados pode ser muito maior, já que o vírus não foi colocado na lista
de notificação compulsória de doenças –aquelas que os hospitais são
obrigados a informar para as secretarias de saúde de suas regiões. Isso
gera algumas disparidades grandes: na Bahia, por exemplo, foram
notificados 56.318 casos neste boletim (o Estado já atualizou este
número para 62.635) e, em Pernambuco, onde há mais casos de
microcefalia, só dois casos de suspeita de zika aparecem no relatório.
Há ainda outros fatores que contribuem para a subnotificação: a
semelhança de sintomas com a dengue (que pode ter feito muitos hospitais
identificarem casos de zika como dengue oficialmente), a manifestação
mais branda de sintomas (que pode fazer com que as pessoas não procurem
um hospital) e o fato de o zika não apresentar qualquer sintoma em mais
de 80% dos casos (as pessoas se infectam e não sabem).
6. O que é o zika, exatamente?
É um vírus semelhante filogeneticamente aos da dengue e da febre
amarela. Ele foi descoberto pela primeira vez na floresta de Zika, em
Uganda, em 1947, em macacos monitorados cientificamente para o controle
da febre amarela. Até 2007, entretanto, ele era relativamente
desconhecido, até que surgiu um grande surto na ilha de Yap e em outras
ilhas próximas aos Estados Federados da Micronésia (acima da Austrália),
com 8.187 afetados. Entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014, um novo
surto atingiu a Polinésia Francesa, com 8.264 casos suspeitos.
7. Como ele é transmitido?
O principal modo de transmissão é por meio do mesmo vetor da dengue, o
Aedes aegypti. Mas há relatos de transmissão sexual (ele se mantêm no
esperma por mais tempo), perinatal (da mãe para o feto) e sanguínea, o
que traz um grande desafio na prevenção, já que grande parte das pessoas
que contraem a doença não apresentam sintomas.
8. Se já houve surtos de zika em outros locais da Oceania, esses locais também registraram um aumento de casos de microcefalia?
Não. Essa é a primeira vez no mundo em que há uma suspeita tão grande
da correlação dos casos de microcefalia com o zika vírus. Esse é um
fator, inclusive, que impõe um enorme desafio para o país, já que não
existe nenhum estudo ou experiência anterior que possa orientar na
resolução do problema. Não há uma explicação clara para essa diferença
de comportamento entre o Brasil e outros lugares. O que se sabe é que o
vírus que circula aqui é o mesmo. Uma das explicações pode ser a
diferença genética. Outra, o fato de que as epidemias de zika fora do
país ocorreram em nações muito pequenas e, por isso, foram muito menores
(menos de 10.000 casos) o que pode ter mantido a incidência de casos de
microcefalia abaixo do radar desses locais. Uma terceira explicação
pode ser o fato de que pela primeira vez o zika chegou a um país com um
sistema de vigilância em saúde mais organizado, que conseguiu detectar a
correlação.
9. Por que o número de casos de microcefalia é muito maior em Pernambuco?
O Ministério da Saúde ainda investiga os motivos dessa alta
concentração no Estado, que registrou 65% dos casos até agora. O fato
levanta dúvidas: estaria a maior incidência de casos de microcefalia
relacionada com uma interação do vírus zika com outro fator externo,
como um medicamento, por exemplo? Ainda não há uma resposta.
10. O que eu posso fazer?
Como até o momento o grande suspeito de causar o problema é o zika vírus, o ideal é evitar a propagação do Aedes aegypti, mosquito que também transmite quatro tipos de dengue e o chikungunya,
uma doença que ataca as articulações e provoca dores bastante intensas.
O mosquito se prolifera em água limpa parada, por isso é importante
evitar que ela se acumule em pneus, vasos de plantas e qualquer outro
recipiente aberto. Para evitar picadas, use repelentes e telas nas
janelas e portas.
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