domingo, 20 de março de 2016

Cirurgias para ronco e apnéia do sono: dúvidas mais frequentes

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1) Estou roncando. Existe alguma cirurgia que possa me ajudar?
Sim e não. Sim, porque existem diversas modalidades cirúrgicas que podem ser direcionadas ao tratamento do ronco e apnéia do sono. E, não, até que você seja avaliado por um médico especialista, o qual identificará se você é um “bom candidato” a algum procedimento cirúrgico com esse objetivo.
2) E o que é ser um “bom candidato” para uma cirurgia de ronco ou apnéia do sono?
O “bom candidato” é aquele paciente que possui alterações estruturais significativas das vias aéreas superiores (em nariz, faringe, base de língua ou na estrutura óssea facial) que, quando corrigidas, possam de fato melhorar ou normalizar o fluxo de ar por esse trajeto, principalmente durante o sono. Traduzindo: se seu nariz, garganta ou ossos da face são “normais”, não há (na grande maioria das vezes) motivos para você ser operado, independente da intensidade de seu ronco ou gravidade de sua apnéia. Nesse caso, deve ser optada por uma opção dentre os diversos tratamentos clínicos disponíveis.
Entretanto, para toda e qualquer cirurgia para ronco e apnéia do sono, melhores resultados geralmente são obtidos em pacientes mais jovens e mais magros, o que por exemplo não exclui definitivamente a possibilidade de bons resultados em um idoso com sobrepeso, desde que bem indicado pelo especialista que o acompanha.
3) E quais as cirurgias mais comuns que geralmente são indicadas com esse propósito?
– cirurgias nasais: para desvios de septo nasal (septoplastia), aumento de volume de conchas nasais (turbinectomia, turbinolpastia ou radiofrequência em conchas nasais), aumento de volume de adenóides (adenoidectomia), presença de pólipos ou lesões nasais (polipectomia ou exérese de lesões nasais ou nasossinusais).
– cirurgias de garganta: para aumento de volume amígdalas (amigdalectomia) ou excesso/flacidez de tecido mucoso ou muscular na região da úvula ou próximo às amígdalas (uvulopalatofaringoplastia, redução volumétrica de palato mole por radiofreqüência, injeção roncoplástica, implantes de pilares palatais, faringoplastia lateral).
– cirurgias de base de língua: para aumento de volume lingual ou para línguas proporcionalmente grandes para o tamanho da cavidade oral (glossectomia, ablação lingual por radiofreqüência, avanço do músculo genioglosso, miotomia e suspensão do hióide).
– cirurgias ósseas faciais: para correção de defeitos de posicionamento ou de dimensões de maxila e/ou mandíbula (avanço maxilo-mandibular, distração osteogênica da mandíbula e/ou maxila e expansão maxilar rápida).
Interessante ressaltar que, em muitos casos, o paciente possui alterações em mais de um ponto das vias aéreas superiores, podendo ser indicados em uma mesma cirurgia dois ou três procedimentos concomitantes, como por exemplo uma septoplastia, associada a uvulopalatofaringoplastia e ablação lingual por radiofreqüência. Nesses casos, os resultados certamente serão otimizados, pois foram corrigidas diversas alterações em um único tempo cirúrgico.
4) Meu vizinho ronca e tem apnéia do sono, assim como eu. Fizemos o exame do sono e, por coincidência, tivemos o mesmo resultado (apnéia do sono grave). Marcamos consulta com o mesmo especialista em sono e, curiosamente, para meu vizinho foi indicada uma cirurgia de garganta e, para mim, um aparelho chamado CPAP. Por que essa diferença de tratamento, se temos a mesma doença?
Esse é, sem dúvida, o ponto mais delicado do tratamento do ronco e da apnéia do sono – a adequação do tratamento a cada perfil de paciente. Essas diferenças de conduta entre pacientes semelhantes, mesmo que possuam quadro clínico e resultados de exames idênticos, existem devido a diferenças interpessoais de idade, peso, sexo, grau e localização de alterações de vias aéreas superiores e presença de outras doenças associadas (diabetes, pressão alta, arritmias cardíacas, doenças pulmonares, neurológicas ou neuromusculares, etc.). A avaliação global desses fatores é determinante para a indicação de qualquer cirurgia.
Ou seja: o tratamento cirúrgico do ronco e apnéia do sono é sempre individualizado, e depende em parte de resultado de exames e, em sua maior parte, das particularidades físicas de cada paciente. Um bom tratamento para seu vizinho pode ser péssimo para você, ou vice-versa, mesmo que possuam quadros clínicos semelhantes.
E esse julgamento deve ser criteriosamente feito por um médico especialista na área, para minimizar erros ou resultados insatisfatórios (infelizmente bastante comuns no cenário atual).
5) E como saber se meu problema será melhor resolvido com, sem ou também com cirurgia?
A avaliação por um especialista é sempre o caminho mais seguro, sem dúvida. Uma cirurgia não é um “corte de cabelo”, sendo que devem ser considerados em conjunto com o paciente os riscos, prós e contras de todo e qualquer procedimento, mas que quando bem indicados podem trazer resultados muito satisfatórios e duradouros. Além disso, a “pílula mágica” para a cura do ronco e apnéia do sono ainda não foi descoberta, sendo que a cirurgia, quando indicada, faz parte de um “processo de tratamento”, e não deve ser encarada como “o” tratamento. Idade, sexo, peso e outras doenças concomitantes influenciam no grau e duração dos resultados cirúrgicos, o que deve sempre ser de conhecimento do paciente.
Dr. Murilo Lima

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