1) Estou roncando. Existe alguma cirurgia que possa me ajudar?
Sim e não. Sim, porque existem diversas
modalidades cirúrgicas que podem ser direcionadas ao tratamento do ronco
e apnéia do sono. E, não, até que você seja avaliado por um médico
especialista, o qual identificará se você é um “bom candidato” a algum
procedimento cirúrgico com esse objetivo.
2) E o que é ser um “bom candidato” para uma cirurgia de ronco ou apnéia do sono?
O “bom candidato” é aquele paciente que
possui alterações estruturais significativas das vias aéreas superiores
(em nariz, faringe, base de língua ou na estrutura óssea facial) que,
quando corrigidas, possam de fato melhorar ou normalizar o fluxo de ar
por esse trajeto, principalmente durante o sono. Traduzindo: se seu
nariz, garganta ou ossos da face são “normais”, não há (na grande
maioria das vezes) motivos para você ser operado, independente da
intensidade de seu ronco ou gravidade de sua apnéia. Nesse caso, deve
ser optada por uma opção dentre os diversos tratamentos clínicos
disponíveis.
Entretanto, para toda e qualquer cirurgia
para ronco e apnéia do sono, melhores resultados geralmente são obtidos
em pacientes mais jovens e mais magros, o que por exemplo não exclui
definitivamente a possibilidade de bons resultados em um idoso com
sobrepeso, desde que bem indicado pelo especialista que o acompanha.
3) E quais as cirurgias mais comuns que geralmente são indicadas com esse propósito?
– cirurgias nasais: para desvios
de septo nasal (septoplastia), aumento de volume de conchas nasais
(turbinectomia, turbinolpastia ou radiofrequência em conchas nasais),
aumento de volume de adenóides (adenoidectomia), presença de pólipos ou
lesões nasais (polipectomia ou exérese de lesões nasais ou
nasossinusais).
– cirurgias de garganta: para
aumento de volume amígdalas (amigdalectomia) ou excesso/flacidez de
tecido mucoso ou muscular na região da úvula ou próximo às amígdalas
(uvulopalatofaringoplastia, redução volumétrica de palato mole por
radiofreqüência, injeção roncoplástica, implantes de pilares palatais,
faringoplastia lateral).
– cirurgias de base de língua:
para aumento de volume lingual ou para línguas proporcionalmente grandes
para o tamanho da cavidade oral (glossectomia, ablação lingual por
radiofreqüência, avanço do músculo genioglosso, miotomia e suspensão do
hióide).
– cirurgias ósseas faciais: para
correção de defeitos de posicionamento ou de dimensões de maxila e/ou
mandíbula (avanço maxilo-mandibular, distração osteogênica da mandíbula
e/ou maxila e expansão maxilar rápida).
Interessante ressaltar que, em muitos
casos, o paciente possui alterações em mais de um ponto das vias aéreas
superiores, podendo ser indicados em uma mesma cirurgia dois ou três
procedimentos concomitantes, como por exemplo uma septoplastia,
associada a uvulopalatofaringoplastia e ablação lingual por
radiofreqüência. Nesses casos, os resultados certamente serão
otimizados, pois foram corrigidas diversas alterações em um único tempo
cirúrgico.
4) Meu vizinho ronca e tem apnéia
do sono, assim como eu. Fizemos o exame do sono e, por coincidência,
tivemos o mesmo resultado (apnéia do sono grave). Marcamos consulta com o
mesmo especialista em sono e, curiosamente, para meu vizinho foi
indicada uma cirurgia de garganta e, para mim, um aparelho chamado CPAP.
Por que essa diferença de tratamento, se temos a mesma doença?
Esse é, sem dúvida, o ponto mais delicado
do tratamento do ronco e da apnéia do sono – a adequação do tratamento a
cada perfil de paciente. Essas diferenças de conduta entre pacientes
semelhantes, mesmo que possuam quadro clínico e resultados de exames
idênticos, existem devido a diferenças interpessoais de idade, peso,
sexo, grau e localização de alterações de vias aéreas superiores e
presença de outras doenças associadas (diabetes, pressão alta, arritmias
cardíacas, doenças pulmonares, neurológicas ou neuromusculares, etc.). A
avaliação global desses fatores é determinante para a indicação de
qualquer cirurgia.
Ou seja: o tratamento cirúrgico do ronco e
apnéia do sono é sempre individualizado, e depende em parte de
resultado de exames e, em sua maior parte, das particularidades físicas
de cada paciente. Um bom tratamento para seu vizinho pode ser péssimo
para você, ou vice-versa, mesmo que possuam quadros clínicos
semelhantes.
E esse julgamento deve ser
criteriosamente feito por um médico especialista na área, para minimizar
erros ou resultados insatisfatórios (infelizmente bastante comuns no
cenário atual).
5) E como saber se meu problema será melhor resolvido com, sem ou também com cirurgia?
A avaliação por um especialista é sempre o
caminho mais seguro, sem dúvida. Uma cirurgia não é um “corte de
cabelo”, sendo que devem ser considerados em conjunto com o paciente os
riscos, prós e contras de todo e qualquer procedimento, mas que quando
bem indicados podem trazer resultados muito satisfatórios e duradouros.
Além disso, a “pílula mágica” para a cura do ronco e apnéia do sono
ainda não foi descoberta, sendo que a cirurgia, quando indicada, faz
parte de um “processo de tratamento”, e não deve ser encarada como “o”
tratamento. Idade, sexo, peso e outras doenças concomitantes influenciam
no grau e duração dos resultados cirúrgicos, o que deve sempre ser de
conhecimento do paciente.
Dr. Murilo Lima
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