O Brasil está enfrentando uma epidemia de zika, doença "prima da dengue", desde o meio do ano.
No final do ano passado, foi confirmada pela Ministério da Saúde a relação entre o vírus zika e a microcefalia, uma má-formação do cérebro de bebês.
A doença, também transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, provoca sintomas parecidos, porém mais brandos do que os da dengue: febre, dor de cabeça e no corpo e manchas avermelhadas.
A
região Nordeste é a mais afetada pelo surto de microcefalia - no Brasil
ao todo estão sendo investigados 3.448 casos suspeitos da doença.
Outros 270 casos de microcefalia foram confirmados pelo Ministério da
Saúde nesta quarta-feira, e 462 foram descartados.
O avanço do
zika e os casos de microcefalia pegaram o país de surpresa e suscitaram
várias dúvidas. Veja abaixo as respostas a algumas dessas questões:
Qual a relação entre o zika e a microcefalia?
A
partir de exames realizados em uma bebê nascida no Ceará, e que acabou
morrendo com microcefalia e outras malformações congênitas,
identificou-se a presença do vírus.
A confirmação foi possível a
partir da descoberta, pelo Instituto Evandro Chagas, da presença do
vírus em amostras de sangue e tecidos da recém-nascida, que morreu.
A confirmação da relação entre o vírus e a microcefalia é inédita na pesquisa científica mundial.
A
microcefalia é uma má-formação congênita, em que o cérebro não se
desenvolve de maneira adequada. Ela pode ter diferentes origens, como
substâncias químicas, radiação e agentes biológicos (infecciosos), como
bactérias e vírus.
Segundo o governo, na epidemia atual, os bebês
nascem com perímetro cefálico menor que o normal (ou seja, igual ou
inferior a 32 cm), que habitualmente é superior a 33 cm.
O que ainda não sabemos sobre a ligação entre o zika e a má-formação fetal?
O
Ministério da Saúde deixou claro, no entanto, que ainda há muitas
questões a serem respondidas. Uma delas é como ocorre exatamente a
atuação do zika no organismo humano e a infecção do feto.
Uma
pesquisa do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) e da PUC-PR
confirmou que o vírus da zika consegue atravessar a placenta durante a
gestação.
Mas também não se sabe ao certo qual o período de maior
vulnerabilidade para a gestante. Em análise inicial do governo, o risco
está associado aos primeiros quatro meses de gravidez.
O que é o zika?
É
um arbovírus (do gênero flavivírus), ou seja, costuma ser transmitido
por um artrópode, que pode ser um carrapato, mas normalmente é um tipo
de mosquito.
O zika é transmitido por um mosquito do gênero Aedes, como o Aedes aegypti, que também transmite a dengue e a febre chikungunya.
Além disso, ele também está relacionado com a febre amarela, a febre do Nilo e a encefalite japonesa.
Qual a origem do zika?
O vírus foi identificado pela primeira vez em 1947 em Uganda, na floresta de Zika.
Ele foi descoberto em um macaco rhesus durante um estudo sobre a transmissão da febre amarela no local.
Exames
confirmaram a infecção em seres humanos em Uganda e Tanzânia em 1952,
mas somente em 1968 foi possível isolar o vírus, com amostras coletadas
em nigerianos.
Diversas análises genéticas demonstraram que existem duas grandes linhagens do vírus: a africana e a asiática.
Quantas pessoas já morreram no Brasil vítimas do zika?
Segundo
o Ministério da Saúde, já foram notificados 68 casos de morte por
má-formação congênita após o parto (natimorto) ou durante a gestação
(aborto espontâneo).
Desses, foi confirmado que 12 tinham a
infecção congênita, todos na região Nordeste. Ainda estão sendo
investigadas 51 mortes, e outras cinco já foram descartadas.
Também foi confirmada pelo governo a morte de pelo menos outras duas pessoas.
O primeiro caso foi o de um homem com histórico de
lúpus e de uso crônico de medicamentos corticoides, morador de São Luís
(MA). Exames específicos mostraram a presença do genoma do zika no
sangue e em órgãos como o cérebro, fígado, baço, rim, pulmão e coração.
O
segundo é o de uma menina de 16 anos, do município de Benevides, no
Pará, que acabou morrendo no final de outubro. Com suspeita inicial de
dengue, ela apresentou dor de cabeça, náuseas e manchas vermelhas na
pele e mucosas. Testes deram positivo para o zika.
Houve surtos anteriores de zika?
Sim,
mas não no atual grau. Em 2007, por exemplo, foram registrados casos de
infecção do vírus na ilha de Yap, que integra a Micronésia, no oceano
Pacífico.
Foi a primeira vez que se detectou o vírus fora de sua área geográfica original, a África.
Também
houve casos nas Ilhas Cook e Nova Caledônia, também no Pacífico, e no
final de 2013 houve um surto na Polinésia Francesa. Mais de 10 mil casos
foram diagnosticados.
Desse total, cerca de 70 evoluíram para um estado
grave. Esses pacientes desenvolveram complicações neurológicas, como
meningoencefalite, e doenças autoimunes, como leucopenia (redução do
nível de leucócitos no sangue).
No dia 26 de novembro, um
relatório divulgado por autoridades locais mostrou que pelo menos 17
casos de má-formação do sistema nervoso central foram registrados entre
2014 e este ano, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e
Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês).
Na América, o
vírus foi detectado pela primeira vez em fevereiro de 2014 por
autoridades chilenas, que confirmaram um caso na Ilha de Páscoa. A
transmissão se deu de maneira autóctone (ocorrida dentro do território
nacional e não em pessoas que viajaram para o exterior).
Em maio de 2015, o Brasil confirmou seu primeiro caso desse tipo de transmissão, em um paciente da região Nordeste.
Segundo
a Organização Mundial da Saúde, há casos autóctones em Barbados,
Bolívia, Colômbia, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guiana
Francesa, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Martinica,
México, Panamá, Paraguai, Porto Rico, Saint Martin, Suriname, Ilhas
Virgens Americanas e Venezuela.
Também houve casos diagnosticados,
entre outros, nos EUA, Inglaterra, Espanha, Itália, Portugal e
Dinamarca. Mas os pacientes haviam viajado e contraíram o vírus em
outros países.
Se uma pessoa contrai zika, ela fica imune?
De
acordo com o Ministério da Saúde, isso ainda está sendo investigado. O
ministro da pasta, Marcelo Castro, chegou a dizer que era preciso
"torcer para que as pessoas em período fértil peguem o zika antes",
declaração que causou polêmica.
Segundo o ministério e
especialistas ouvidos pela BBC Brasil, a princípio uma pessoa que já
contraiu o vírus fica imune a novas infecções pela doença.
Porém,
ainda não se sabe se o zika pode ter mais de um subtipo, como a dengue
(que tem quatro, o que faz com que uma pessoa possa ser infectada várias
vezes). Se o zika tiver mais de um subtipo, uma pessoa infectada no
passado poderia contrair o vírus novamente.
Qual o tempo de incubação do vírus?
O
tempo de incubação tende a oscilar entre 3 e 12 dias. Após esse período
surgem os primeiros sintomas. No entanto, a infecção também pode
ocorrer sem o surgimento de sintomas (leia mais abaixo).
Segundo um estudo publicado na revista médica The New England Journal of Medicine, uma em cada quatro pessoas desenvolve os sintomas.
A maioria dos pacientes se recupera, sendo que a taxa de hospitalização costuma ser baixa.
E os sintomas?
O vírus provoca sintomas parecidos com os da dengue,
contudo mais brandos: febre alta, dor de cabeça e no corpo, manchas
avermelhadas, dores musculares e nas articulações. Também pode causar
inflamações nos pés e nas mãos, conjuntivite e edemas nos membros
inferiores. Os sintomas costumam durar entre 4 e 7 dias.
Há outros sintomas menos frequentes, como vômitos, diarreia, dor abdominal e falta de apetite.
No
entanto, é bom lembrar que cerca de 80% dos casos são assintomáticos,
ou seja, a pessoa não percebe que está doente, segundo a OMS.
Análises recentes no Brasil indicam que o zika pode contribuir para agravamento de quadros clínicos e levar à morte.
Qual o tratamento para o zika?
Não
há uma vacina nem um tratamento específico para o zika vírus, apenas
medidas para aliviar os sintomas, como descansar e tomar remédios como
paracetamol para controlar a febre. O uso de aspirina não é recomendado
por causa do risco de sangramento.
Também se aconselha beber muito líquido para amenizar os sintomas.
Há prevenção?
Como
a transmissão ocorre pela picada do mosquito, recomenda-se o uso de
mosquiteiros com inseticidas, além da instalação de telas.
Também
são indicados repelentes com um composto chamado icaridina e roupas que
cubram braços e pernas, para reduzir as chances de se levar uma picada.
O que o governo está fazendo para lidar com a epidemia de zika e a microcefalia?
O Ministério da Saúde fez um apelo para uma mobilização nacional no combate ao mosquito Aedes aegypti.
O
governo também anunciou que, no dia 13 de fevereiro, cerca de 220 mil
homens das Forças Armadas irão às ruas orientar moradores sobre a
prevenção ao Aedes aegypiti. E prometeu fornecer repelentes para 400 mil grávidas beneficiárias do Bolsa Família.
O ministério também afirma que distribuirá 500 mil testes para realizar o diagnóstico do vírus.
No
dia 13 de novembro, Cláudio Maierovitch, diretor do departamento de
Vigilância de Doenças Transmissíveis, recomendou que as mulheres não
engravidassem.
"Não engravidem agora. Esse é o conselho mais sóbrio que pode ser dado", disse.
Depois, o Ministério da Saúde mudou o tom e hoje recomenda cautela a mulheres que pretendem engravidar.
Também recomenda que grávidas usem roupas de manga comprida, calças e repelentes apropriados para gestantes.
É
importante que as gestantes mantenham o acompanhamento e as consultas
de pré-natal, com a realização de todos os exames recomendados pelo
médico.
A Presidência também determinou a convocação do chamado
Grupo Estratégico Interministerial de Emergência em saúde Pública de
Importância Nacional e Internacional (GEI-ESPII), que envolve 19 órgãos e
entidades, para a formulação de plano nacional do combate ao mosquito.
Fontes:
Ministério da Saúde, Organização Panamericana de Saúde, Centro Europeu
para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês),
Biblioteca Nacional de Medicina e Institutos de Saúde dos Estados Unidos
e WebMD.
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