segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Redução de estômago é novo tratamento possível para Diabetes tipo 2

Novos critérios para cirurgia abrem caminho para controle mais eficiente da glicemia em pacientes sem obesidade severa ou mórbida

 Mudança vai atender pacientes diabéticos que não necessariamente têm obesidade, mas estão expostos ao risco de outras complicações  no coração, nos rins  e na retina 

Mudança vai atender pacientes diabéticos que não necessariamente têm obesidade, mas estão expostos ao risco de outras complicações no coração, nos rins e na retina (Reprodução internet)

Hoje indicada somente para obesos severos ou mórbidos, a cirurgia bariátrica em breve será uma opção de tratamento para os diabéticos tipo 2 que já não respondem aos remédios ou às injeções de insulina. Até o mês de novembro, o Conselho Federal de Medicina (CFM) deve publicar novas diretrizes para esse tipo de procedimento, garantindo o acesso de mais pacientes aos benefícios metabólicos da redução de estômago.
Na última semana, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, pioneiro nos estudos sobre o assunto no Brasil, realizou em São Paulo um encontro para discutir as novas perspectivas em cirurgia para o controle da diabetes tipo 2. Relator da diretriz no CFM, o Dr. Ricardo Cohen é quem está à frente desse debate.
“Há quatro anos estamos discutindo uma forma de indicar a cirurgia bariátrica e metabólica para diabéticos não obesos mórbidos, mas as pesquisas nesse sentido somam mais de uma década no País”, explicou o médico. Atualmente, a redução de estômago só é realizada em indivíduos com IMC acima de 35 kg/m² e que apresentem uma ou duas complicações associadas (diabetes, hipertensão, apneia do sono, infertilidade e outras). 
Porém, o Dr. Cohen aponta que grande parte dos diabéticos no Brasil e no mundo não têm IMC alto. “O IMC da maioria dos diabéticos no Brasil é 29,8 kg/m², o que é considerado um sobrepeso, quase obesidade leve. Então temos que ter alguma coisa para oferecer a esses pacientes quando o tratamento clínico falha”.

A cirurgia
Na prática, a cirurgia para o obeso mórbido e para o diabético é a mesma, a chamada bypass ou Y de Roux: o médico reduz o estômago e desvia a primeira porção do intestino em mais ou menos 50 cm. A diferença está nos objetivos a serem alcançados em cada caso. “Vimos que a cirurgia bariátrica não serve apenas para o indivíduo perder peso, isso é um efeito colateral a longo prazo. O conceito de cirurgia metabólica nasce daí, pois os resultados da redução de estômago sobre o controle da glicemia são imediatos”, explica Cohen.
“Acreditamos que há uma integração fisiológica entre tubo digestivo, pâncreas e cérebro por trás disso”, destaca.De acordo com ele, a redução altera a flora bacteriana intestinal, a secreção de ácidos biliares e modifica o trânsito dos alimentos no intestino, promovendo tanto o controle do apetite quanto o gasto calórico e a secreção de insulina. 

Metabolismo
Segundo o especialista, a nova diretriz pretende tirar do IMC o papel de único critério para a indicação da cirurgia bariátrica. Pelo sistema discutido no Conselho de Medicina, serão aplicadas notas a cada componente da síndrome metabólica, como histórico familiar, idade, pressão e colesterol, num total de 13 itens. Se o paciente cumprir sete deles, será feita a indicação cirúrgica.
“É bom lembrar que diabetes não tem cura, só remissão. Com a cirurgia, os resultados são imediatos, independente da perda de peso. Em média, até 20% dos pacientes ao longo dos anos vai ter novamente a diabetes fora do controle, mas a doença volta mais suave. Dos pacientes que usam insulina, 90% ficam sem ela, então a qualidade de vida melhora bastante”.

Efeitos
Entre os possíveis efeitos colaterais a longo prazo estão deficiências nutricionais leves, como de vitamina D, complexo A e B e ferro em mulheres em fase sexual. “Mas é um tipo de cirurgia com baixo índice de mortalidade, comparável a uma operação de vesícula”, completa o médico.
Ele acredita que o Brasil, por estar no segundo lugar no ranking de bariátricas realizadas no mundo – foram 96.500 em 2014 – está bem servido de centros médicos preparados para atender a demanda que surgirá a partir da publicação da nova diretriz. O procedimento para esse perfil de pacientes, que custa hoje em torno de R$ 20 mil, a princípio poderá ser feito apenas em clínicas particulares.
A nova diretriz do Conselho Federal de Medicina conta com o apoio de diversas entidades, como a Sociedade Brasileira  de  Cirurgia  Bariátrica  e  Metabólica  e a  Sociedade  Brasileira  de  Diabetes.

IMC
O Índice de Massa Corporal (IMC) é o padrão internacional para avaliar o grau de sobrepeso e obesidade. É calculado dividindo o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em metros). IMC = Peso / Altura x Altura
< 16: Magreza grave
16 a < 17: Magreza moderada
17 a < 18,5: Magreza leve
18,5 a < 25: Saudável25 a < 30: Sobrepeso
30 a < 35: Obesidade grau
I35 a < 40: Obesidade grau II (severa)
>= 40: Obesidade grau III (mórbida)

Sobre Ricardo Cohen
Doutor  em  Medicina  pela USP, atualmente é coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Sua área de atuação é principalmente nos  seguintes  temas:  diabetes mellitus  tipo  2  e  cirurgias  bariátrica  e metabólica.  Foi apontado pela American Society for Metabolic and Bariatric Surgery como um dos 30 médicos mais influentes  do mundo  nesta  área  do  conhecimento.
* O repórter viajou a convite do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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