 
 
Departamento de Tireoide da SBEM divulga comunicado sobre a decisão da ANVISA
 de diminuir a concentração de iodo no sal de cozinha comercializado no 
Brasil. A medida pode trazer consequências para à população de gestantes
 e seus bebês.
Segundo a presidente do Departamento de Tireoide, a principal crítica
 sobre a decisão da Anvisa é a falta de embasamento científico para a 
adoção destas medidas. "Consideramos uma atitude surpreendente e 
precipitada". Ela explica que não houve uma discussão adequada com os 
especialistas da Sociedade.

Ela explica que a Sociedade não foi chamada para discutir seriamente sobre o assunto.
"O erro está no consumo em excesso de ingestão de sal e não no iodo 
que está contido nele. A alegação das autoridades é a existência de 
pesquisas, que mostram um consumo excessivo de iodo pela população, 
porém os números finais desta pesquisa, se é que ela está finalizada, 
 não foram divulgados.  A endocrinologista explica que ao colocar na 
balança o número de problemas relativos à deficiência de iodo em relação
 ao excesso, observa-se que a deficiência é gravíssima, incontestável  e
 reconhecida, com consequências para o desenvolvimento social do país. 
"Já em relação ao excesso não existem pesquisas suficientes para 
comprovar que a nossa população esteja sofrendo algum malefício ".
O Departamento de Tireoide da SBEM Alerta para o Perigo de Diminuir o Teor de Iodo do Sal
O iodo vem sendo adicionado ao sal de 
cozinha no Brasil desde 1953, como medida de erradicação do bócio 
endêmico. Tal medida é defendida em todo mundo pela Organização Mundial da Saúde e pelo ICCIDD (International Council for the Control of Iodine Deficiency Disorders) e é uma das mais eficazes para combater este verdadeiro flagelo da humanidade que é o cretinismo, o retardo mental endêmico causado pela falta de iodo intrauterina.
O Brasil sofreu de carência de iodo na alimentação de sua população 
por séculos. Cidades e regiões inteiras eram conhecidas pelo fato de 
seus habitantes apresentarem “papo” e suas crianças serem "lerdas", 
algumas com severa deficiência mental.
A falta de iodo tem efeitos graves em várias fases da vida, como resume a tabela abaixo:
| Feto | Aborto/Natimorto | 
|  | Anomalias congênitas | 
|  | Aumento da mortalidade peri-natal | 
|  | Cretinismo endêmico | 
|  | Surdo-mudez | 
| Neonato | Bócio Neonatal | 
|  | Hipotiroidismo neonatal | 
|  | Retardo mental endêmico | 
|  | Aumento da suscetibilidade da tireoide à radiação nuclear | 
| Crianças e | Bócio | 
| Adolescentes | Hipotiroidismo | 
|  | Diminuição da função mental | 
|  | Retardo do desenvolvimento físico | 
|  | Aumento da suscetibilidade da tireoide à radiação nuclear | 
| Adulto | Bócio | 
|  | Hipotiroidismo | 
|  | Diminuição da função mental | 
|  | Aumento da suscetibilidade da tireoide à radiação nuclear | 
Estima-se que, no Brasil, cada cinco gramas de sal iodetado contenham
 aproximadamente 100 microgramas de iodo. A suplementação considerada 
ótima para adultos seria de 100 a 150 microgramas por dia, com ingestão 
mínima necessária de 50 microgramas por dia. Para crianças, as 
necessidades variam de acordo com a faixa etária, de aproximadamente 40 
microgramas de iodo ao dia, entre 0 a 5 meses de idade, e de 100 a 150 
microgramas por dia para crianças maiores de 11 anos. Mas, durante a 
gestação e a amamentação, esta necessidade aumenta para 250 microgramas 
por dia.
Dados coletados pelo grupo da USP de Ribeirão Preto e por 
pesquisadores da FAMEMA de Marília, São Paulo, em duas populações 
diferentes de mulheres grávidas, mostram que mais da metade delas 
apresenta carência de iodo. O fato já é muito grave. A redução da 
quantidade de iodo no sal proposta pela ANVISA pode potencialmente 
 agravar esta situação.
Sabemos que o brasileiro realmente consome muito mais sal do que deveria. A consequência mais nefasta é, sem dúvida, a hipertensão arterial. Associada à obesidade, ao diabetes
 e a outros fatores de risco, a hipertensão ajuda a colocar o Brasil na 
muito pouco honrosa posição de quinto país da América Latina com maior 
número de mortes por doença isquêmica do coração segundo a Organização 
Mundial de Saúde (dados da WHO Global Infobase, 2013).
A ANVISA deveria focar seus esforços em reduzir a quantidade de sal nos alimentos industrializados,
 não em reduzir a quantidade de iodo no sal. Se o objetivo de redução de
 ingestão de sal for alcançado, o que é altamente desejável, estarão, 
ainda, todos os segmentos da população suficientes em iodo?
Urge a necessidade de se avaliar a população de maior risco, gestantes,
 principalmente de regiões interioranas. Pesquisas de avaliação da 
iodúria envolvendo esta população devem ser estimuladas e subsidiadas 
pelo Ministério da Saúde. Se a ANVISA insistir em tomar tal medida 
precipitadamente, sem que estudos conclusivos e abrangentes sejam 
realizados e finalizados, poderá estar colocando em risco populações de 
gestantes e expondo os recém-nascidos ao risco da deficiência mental por falta de iodo, com consequências inadmissíveis ao desenvolvimento humano e econômico do país.
 
 
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