 
 
O câncer de tireoide tem uma reputação estranha: é câncer, mas, com 
uma taxa de sobrevivência de quase 100% quando diagnosticado nos 
estágios iniciais, é um dos cânceres “bons”, como dizem muitos médicos e
 sobreviventes.
Alan Ho acha que essa categorização é um 
mal-entendido comum entre pessoas que nunca tiveram câncer de tireoide 
ou nunca trataram dele. 
Ho é oncologista do Memorial Sloan 
Kettering Center e especialista em doenças malignas como o câncer de 
tireoide. Ele diz ao HuffPost que concentrar-se nas taxas de sobrevida 
“excelentes” desse tipo de doença deixa de lado as dificuldades 
enfrentadas pelos pacientes no tratamento e nos cuidados que eles têm de
 tomar a vida inteira.
“Dá para reconhecer alguns aspectos 
positivos nos índices de sobrevivência de quem teve câncer de tireoide, 
mas não podemos permitir que isso nos desvie a atenção das dificuldades 
reais e dos custos impostos aos pacientes”, diz Ho. 
Não existe só
 um tipo de câncer de tireoide, o que significa que não existe só um 
tipo de cura. Tratamentos podem incluir cirurgia, radiação, 
quimioterapia e terapia hormonal. 
Nenhuma dessas alternativas é 
simples e indolor; a cirurgia tem pequenos riscos de sangramentos, 
infecção e danos aos nervos; a radiação pode alterar os níveis hormonais
 da tireoide; e, é claro, a quimioterapia tem inúmeros efeitos colaterais sérios.
Muitas
 vezes, explica Ho, sobreviver ao câncer da tireoide pode significar 
conviver com ele para o resto da vida. Isso significa exames constantes,
 remédios diários e, é claro, o medo de que a doença volte. 
A recorrência pode ocorrer de 10% a 30% dos casos  e pode se manifestar de 10 a 20 anos depois do tratamento.
Um
 tratamento comum é a remoção da tireoide, glândula que produz hormônios
 essenciais para o funcionamento do organismo. Para suprir esses 
hormônios, os pacientes precisam de terapias de reposição que duram a 
vida toda – em geral por meio de comprimidos. 
Ho nota que alguns 
médicos podem prescrever doses mais altas de hormônios para impedir a 
volta do câncer, mas a terapia tem outros possíveis efeitos colaterais, 
como osteoporose ou até mesmo arritmia cardíaca. Considerando todos 
esses fatores, diz Ho, lidar e sobreviver com esse tipo de câncer 
envolve muitas dificuldades.
“Especialmente em relação a essa 
doença, os números de sobreviventes não contam a história completa do 
que os pacientes têm de enfrentar”, conclui Ho.
Uma vida de 
terapia de reposição hormonal e vigilância certamente cobraram um preço 
de Gary Bloom, 53, de Olney, Maryland. Bloom sobreviveu a um câncer 
papilar da tireoide e é co-fundado e diretor executivo da Associação dos Sobreviventes do Câncer de Tireoide  (ThyCa, na sigla em inglês). 
Seu
 diagnóstico inicial foi feito há mais de 20 anos, e ele passou por três
 cirurgias e cinco tratamentos de radioterapia. Seu câncer voltou uma 
vez. Mesmo que a doença não seja mais uma preocupação diária para Bloom,
 os anos de tratamento e testes e o segundo diagnóstico de câncer o 
afetaram profundamente.
“Quando é hora de fazer um check-up, 
voltam a ansiedade e a realidade de ser um sobrevivente do câncer”, 
disse Bloom ao HuffPost. “A ansiedade é real, pois o câncer pode voltar,
 mesmo depois de 20 ou 30 anos.”
Recentemente, Bloom ajustou sua dose de remédios e confessou não estar “se sentindo tão bem” .
“Muitos
 de nós seremos monitorados a vida toda depois do diagnóstico e do 
tratamento”, diz ele. “Conheço muitas pessoas que não se dão bem com os 
remédios.”
Para ajudar outros sobreviventes a lidar com uma vida 
inteira de manutenção, Bloom ajudou a criar a ThyCa, uma organização que
 oferece materiais educativos para quem recebeu diagnóstico da doença e 
recursos para que os sobreviventes se mantenham saudáveis.
Essa 
perspectiva de longo prazo é necessária justamente porque há tantos 
sobreviventes de câncer de tireoide. E não é suficiente apenas estar 
vivo. 
A manutenção imposta pela doença pode significar exaustão, 
perda de memória, queda de cabelo e problemas cognitivos – tudo isso 
resultado dos remédios, diz Bloom.
Ele também reconhece que a sobrevivência não é a história completa dos pacientes de câncer de tireoide. 
Ele
 atualmente lidera um estudo internacional para ver se consegue aumentar
 a porcentagem dos pacientes cujo câncer é completamente eliminado na 
primeira fase do tratamento. 
Fazer isso significaria reduzir as visitas ao médico e os testes subsequentes, um alívio para os sobreviventes.
“Uma
 visão mais equilibrada seria: ‘Sim, existem vários outros tipos de 
câncer com menores índices de sobrevivência’”, diz Ho. “Mas todos eles 
têm os custos associados do tratamento.”
“Não vemos uma competição
 entre os vários tipos de câncer”, concorda Bloom. “A única competição 
que enxergamos é contra a doença – todos nós sobreviventes estamos 
tentando viver.”
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário